Revolução Russa (1917)


Revolução Russa sob o olhar da imprensa

Ana Paula Moreira
Giuliana Martha
Isabel Cleary
Jessica Bonfim
Mayara Magda
Priscila Carvalho

A Revolução Russa ocorreu entre os anos 1917 e 1921 e foi um período de conflitos e guerrilhas do proletariado e camponeses em um primeiro momento contra a monarquia, e mais adiante para a criação de uma nova estrutura de governo, consolidando aquilo que seria conhecido como primeiro estado socialista da história.

Título do jornal A Gazeta, publicado em 1917 Foto: Ana Paula Moreira

Durante este período, alguns dos maiores dos jornais do Brasil como O Estado de São PauloCorreio da Manhã e A Gazeta noticiavam o que ocorria na Rússia, através de telegramas enviados por agências de notícias internacionais. 

A Havas, Reuters e Associated Press (AP) se destacavam por passar notas quase que diariamente sobre a revolução, além de outros temas importantes como a situação da Alemanha e da França na primeira grande guerra.

A situação pela qual o Império Russo passava era tão grave que a própria tropa da coroa passou a lutar ao lado do povo. Os manifestantes reivindicavam melhores empregos, salários, condições de vida, um governo mais justo e democrático.

De acordo com o professor de História, pós-graduado pela PUC-SP e mestrado em sociologia na USP, Carlos Eduardo Duarte, a experiência russa, a classe operária, sob o vanguardismo dos bolcheviques e do espírito revolucionário de Lênin, assumiu um papel de protagonismo histórico e enfrentou com armas nas mãos um czarismo conservador, uma igreja reacionária, um Estado tradicionalmente violento e hierárquico e uma burguesia que havia aberto mão de seu papel de emancipadora do povo russo para mergulhar na formação dos comitês revolucionários locais. 

No dia 16 de Março de 1917, o jornal A Gazeta publicou uma matéria da capa cujo titulo era “A Revolução na Rússia”, em que citava a abdicação do czar Nicolau II do trono e a posse do herdeiro, príncipe Alexis Nicolaievitch. Nesta mesma página há uma cobertura especial sobre os pormenores da revolução popular, além de telegramas enviados de Petrograd pela agência AP com novas informações.

Matéria de capa sobre a Revolução Russa do jornal A Gazeta, publicado no dia 16 de março de 1917 - Foto: Ana Paula Moreira

Os principais jornais do mundo e agências de notícias estavam voltados para revolução. Na página dedicada a telegramas no jornal A Gazeta, jornais londrinos se mostravam favoráveis à queda de Czar Nicolau II, enquanto os jornais alemães e franceses manifestavam-se indignados com a direção que tomou a Revolução Russa.

O principe herdeiro não aceita tomar pose, e quem assumi  o poder é o goveno provisório, liderados por Martov Kerenski, pertencente ao Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR).Com o novo governo algumas medidas foram estabelecidas. Segundo o telegrama da agência Associated Press para o jornal A Gazeta, o governo provisório ordenou a prisão de todos os ministros.

Já o jornal O Estado de São Paulo, publicou no dia 18 de março de 1917, em forma de nota, a politica provisória do governo russo, em que se comprometiam a anistia geral para os crimes políticos e religiosos, liberdade de associação, direito de greve, abolição dos privilégios sociais e religiosos, convocação de uma assembleia constituinte, manutenção da disciplina militar, restituição dos direitos civis os soldados do exercito em atividade, mas liberdade de imprensa. 

Dia depois, há uma discordância dos ideais do partido, o que resultou na ascensão de Vladimir Lênin como novo líder na implantação do socialismo no país e a criação de dois grupos: os Bolcheviques (maioria do partido POSDR), liderados por Lênin e os Mencheviques (minoria), liderados por Kerenski. Os dois grupos defendiam o regime socialista, mas tinham diferenças no seu modo de execução.

Os Bolcheviques pregavam a concepção de uma ditadura do proletariado e apoiavam o Soviete e o comunismo. Já os Mencheviques, preferia um partido com grande representação, o que resultou em uma grande batalha entre os adeptos dos movimentos. 

A partir de então, eram noticiadas matérias sobre as atrocidades promovidas pelos bolcheviques, que combatiam todos que se diziam contra o novo governo. Em 1918, o jornal A Gazeta publicava periodicamente a nota “A Situação na Rússia”, informando sobre o que estava acontecendo no país.

 Nota do jornal A Gazeta - Foto: Ana Paula Moreira

Entre o que foi divulgado pelo jornal, havia também títulos como: “Os bolchevisques perseguem ingleses e franceses da Rússia”,”A czarina e suas quatro filhas foram assassinadas”, “Continua o reinado do terror em Petrograd”, “ O Massacre na Rússia”, “Na Rússia praticam-se casos monstruosos em nome do socialismo”.

O último título foi publicado no jornal A Gazeta no dia 13 de setembro de 1918, escrita pelo correspondente do jornal norte-americano The New York Times. Ele relata a percepção que teve da Rússia pelos dias que este lá, conversando com as tropas do exercito vermelho e a população local. Ele afirma que a censura estabelecida pelo marxismo, a falta de jornais independentes, a monopolização do telegrafo da cidade de Stokolmo, estava esmagando a verdade, fato que inibia outros países saberem o que os bolcheviques estavam fazendo em nome do socialismo.

O correspondente ainda declara que o governo maximalista passou a exterminar radicalmente aqueles que possam ser seus inimigos, realizando grandes massacres e assassinando pessoas inocentes e que diante de tal situação, os aliados da Rússia teriam que intervir e tratar os chefes do governo provisório como criminosos comuns. 

A grande maioria das notícias divulgadas na época ressaltavam somente o lado ruim do governo bolchevique, não havendo espaço para notícias favoráveis ao sistema estabelecido, como o NEP (Nova Política Econômica), que estimulou positivamente a economia do país.
No dia 25 de outubro de 1918, o jornal A Gazeta pública a nota “Melhora a situação na Rússia”, citando a reorganização do governo russo e mobilização de homens para combater os bolcheviques.

Em 17 de dezembro de 1918 é divulgada outra nota de Stokolmo pelo jornal londrino Daily Mail, em que o capitão Eliot, da armada sueca, afirma que Lênin e seus aliados preparavam-se para sair da Rússia e não cair nas mãos das tropas de nações Aliadas (França e Alemanha), que invadiram o país a fim de interromper a guerra civil, o que não se concretizou. 

Lênin fica mais três anos no poder e ganha à guerra civil contra o Exército Branco com a ajuda do Partido Bolchevique, que desde 1918 havia alterado seu nome para Partido Comunista.

Em 1922, o jornal A Gazeta começa a publicar notícias mais populares, focando mais no caderno de esportes, intitulado " A Gazeta Esportiva". Seu caderno internacional fica reduzido e para de publicar notas referentes ao tema, dando espaço para outros de mais repercussão, como a gripe espanhola e a revolução alemã, que foi influenciada pela própria revolução russa. 

Já o O Estado de São Paulo, assim como o The New York Times, continuaram a divulgar notas sobre o que ocorria na Rússia, como a morte de Vladimir Lênin e a pose de Stalin como seu sucessor, anos depois. 


Matéria publicada pelo jornal norte-americano The New York Times, 1923

A cobertura da imprensa brasileira sobre Revolução Russa foi feita inteiramente através de agencias de notícias internacionais, levando em consideração as condições econômicas dos jornais da época. Isso fazia com que as informações fossem curtas e menos apuradas, quase sempre publicadas como notas ou telegramas em um espaço de tempo maior.

Por outro lado, os principais jornais do mundo no período, como o The New York Times e o Daily Mail, tinham correspondentes no país, o que possibilitava a elaboração de matérias mais completas, com personagens e explicações mais aprofundadas.

Com a evolução da tecnologia, os veículos de comunicação conseguem ter maior acesso a informações e fontes com mais facilidade, o que proporciona dinamismo e agilidade ao produzir uma matéria.

Se a Revolução Russa estivesse acontecendo nos dias atuais, seria possível ter outra visão do que de fato ocorreu no país, em relação aos seus quatro anos de guerra civil.

Haveria mais correspondentes, mais fontes e contatos, provenientes não só das elites europeias ou de países contra o crescimento do comunismo, o que proporcionaria uma melhor formação de opiniões sobre a primeira experiência socialista do mundo, quais foram seus erros e seus acertos e quem eram de fato os seus mentores.

Os anos que marcaram a revolução russa




Entre 1854 e 1856 - A Rússia entra em guerra com as grandes potências da Inglaterra, França e Turquia (Guerra da Criméia), mas é derrotada por causa do atraso em que se encontrava o país. Czar (Imperador) tomou algumas providencia após a derrota, na qual trouxe benefícios e consequências graves, gerando revolta.

 Entre 1880 e 1900 – A Rússia apresenta as maiores taxas de crescimento industrial, devido a uma medida do governo de estimular a industrialização, porém o absolutismo no país continuava aumentando o descontentamento da população com o governo, gerando uma união cada vez maior dos habitantes.

1904 – O país entra em guerra com o Japão e foi novamente derrotado, na qual desequilibrou a economia, agravando a situação dos operários e camponeses, que se sentiram humilhados, aumentando a tensão com o governo de Czar.

1905 – Uma passeata entre os habitantes é realizada com o intuito de levar uma carta ao Czar, em que explicavam a situação em que estavam vivendo e pediam melhoras. O imperador respondeu com um massacre, que é conhecido como “Domingo sangrento”. Czar instala o parlamento Duma.

Entre 1907 e 1914 – Uma aparente tranquilidade se instala no país, devido a um crescimento industrial e terras que foram dadas aos camponeses.

1914 (Agosto) - Ocorreu a primeira guerra mundial em que o povo russo se sente na obrigação de lutar. O país sai da guerra devido à crise financeira que enfrentava, já que grande parte dos investimento iam para frente de batalha. Com os prejuízos da guerra os protestos contra Czar aumentam.

1917 (Fevereiro, março no calendário russo)- É dada o inicio da revolução, na qual diante da pressão popular, Czar renuncia ao cargo. Em seguida é instalado o governo provisório liderado por Alexander Kerensky com membros que se identificavam com os interesses da burguesia russa. Medidas tomadas pelo o novo governo não agradaram os camponeses e suas reivindicações são expostas pelos bolcheviques liderados por Lênin, que no mesmo ano derruba o governo provisório e assume o poder.

1917 (Outubro, novembro no calendário russo) – Acontece a Revolução de Outubro que abriu o caminho para a Rússia se recuperar. Lênin com as ideias marxistas promovia a ideia de criar uma sociedade livre e igual. Várias medidas foram tomadas, a igreja, a burguesia e a nobreza perderam suas terras que foram repassadas aos camponeses, quase tudo ficou em poder do Estado.

1921-Terminada a guerra civil, é feita uma reorientação que ficou conhecida como Nova Política Econômica (NEP), na qual basicamente, para estimular a produção e a livre iniciativa de mercado.

1922- É criada a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) com a união das seguintes repúblicas: Rússia, Ucrânia, Bielorússia, Transcaucásia e as repúblicas da Ásia Central.

1924- Lênin morre, deixando aberta a questão sucessória. Stalin assume o poder, e institui o seu próprio estilo de governo e política econômica no país.


  Casos no Brasil

No Brasil, também é possível analisar alguns casos que são semelhantes com o da Revolução Russa. A luta da prole, ou seja, do trabalhador, acontece a todo o momento e em todo mundo, contudo, em pequenas proporções.

Podemos comparar Lênin com o ex-presidente Lula, por exemplo, na época em que ele era operário e Stálin com Getúlio Vargas. Lula sempre foi um homem do povo, nasceu no meio sindical, junto com o trabalhador, ele era popular e Vargas governava através do populismo, que procurava melhorar sua imagem através da publicidade e propaganda, além de tomar medidas autoritárias e não respeitar instituições. 

Como exemplos de manifestações aqui no Brasil, podemos citar três casos que aconteceram este ano: a greve dos bancários, dos servidores públicos e também dos trabalhadores em correios. Nestas três manifestações, a principal reivindicação era para o aumento de salário, além de melhores condições de trabalho.  E mais, estas três paralisações atingiram grande parte do país, para não dizer todo o Brasil.

Protestos a favor de aumentos salariais, reduções de jornadas de trabalho, ampliações das participações de lucros e resultados, auxílio maternidade entre outros benefícios é constante em todo o território nacional.  Além disso, é interessante analisar que hoje, o trabalhador consegue ter essa visão de direitos e mais do que isso, eles lutam para conseguir. 


Vídeo 

Eles se atreveram - A Revolução Russa de 1917




REFERÊNCIAS:

CHEGAM, de Petrograd novos pormenores sobre a revolução, A Gazeta, São Paulo, 24 de abril de 1917

 PRESOS, e mortos em virtude da revolução russa, A Gazeta, São Paulo, 16 de jul. de 1917

OS, bolshevikis perseguem os ingleses e franceses na Rússia, A Gazeta, São Paulo, 6 de set. de 1918

AS, czarinas e suas quatros filhas foram assassinadas, A Gazeta, São Paulo, 13 de set. 1918

OS, aliados vão fazer concessão aos bolshekivis, A Gazeta, São Paulo, 17 de Nov. de 1918

CONTINUA, o reinado de terror em Petrograd, A Gazeta, São Paulo, 22 de nov. 1918

O, massacre na Rússia, A Gazeta, São Paulo, 14 de set. de 1918

MELHORA, situação na Rússia, A Gazeta, São Paulo, 25 de out. de 1918

A, situação na Rússia, A Gazeta, São Paulo, 4 de dez. de 1918

A, situação na Rússia, A Gazeta, São Paulo, 17 de dez. de 1918

OS, Bolshevikis preparam-se para sahir da Rússi, A Gazeta, São Paulo, 19 de dez. 1918

A, intervenção dos aliados na Rússia, A Gazeta, São Paulo, 15 de dez. de 1918

DA, Rússia vermelha, A Gazeta, São Paulo,25 de dez. de 1918

A, revolução na Rússia, A Gazeta, São Paulo, 16 de mar. de 1917

QUASE, todas as províncias da Rússia já aderiram o movimento revolucionário, A Gazeta, São Paulo, 17 de mar. de 1917

O, jornais londrinos são favoráveis aos revolucionários russos, A Gazeta, São Paulo, 17 de mar. de 1917

OS, jornais alemães estão indignados com a direção que tomou a revolução, A Gazeta, São Paulo, 17 de mar. de 1917

LENIN’S, death words lost, say Trotsky, The New York Times, São Paulo, 24 de fev. de 1924

STALIN, chief minister of the New Union, ablet of the group January,The New York Times, São Paulo, 18 de jan. de 1923

TELEGRAMAS, O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 de mar. de 1917

COMO, foi recebida Alemanha a notícia da morte de Lênin, O Estado de São Paulo, São Paulo,  24 de jan. de 1924

TROTSKY, não deseja fazer as pazes com Stalin, O Estado de São Paulo, São Paulo,  15 de out. de 1929

 ANTONIO, Manuel, Apostila Etapa, São Paulo: Etapa, 2009.54p.

 Site de pesquisa: InfoEscola. Disponível em:
www.infoescola.com.br > acesso em: 20/11/12

Site de pesquisa: Mundo Vestibular. Disponível em:
 <http://www.mundovestibular.com.br > acesso em: 21/11/12

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