Crise financeira de 1929
CRISE ECONÔMICA DE 1929 E SEUS DESMEMBRAMENTOS
Por Andre Guerreiro, Elton Oliveira, Guilherme Arantes, Hugo Firmino, Pedro Caoneto, Rannielly Oliveira, Tatyane Zamfirov
A crise de 1929, também conhecida como “A Grande Depressão”, iniciou-se no ano de 1929, persistindo por toda a década de 1930, tendo o seu desfecho somente com o final da Segunda Guerra Mundial. Este período da depressão foi considerado o pior e mais longo de recessão econômica do século XX, levando a altas taxas de desemprego, enorme queda do PIB em vários países, assim como quedas nas produções industriais e ações de quase o mundo inteiro.
Divulgação da crise de 1929 pela mídia – O Estado de S. Paulo - E a influência da queda do mercado de ações no Brasil.
Em visita ao acervo de jornais pertencentes ao Centro de Difusão e Apoio à Pesquisa, do Arquivo Público do Estado de São Paulo, em 9 de novembro de 2012, foi possível observar como as conseqüências da queda do mercado de ações de Nova York (1929) afetaram o Brasil. Além da possibilidade de notar a diferença da cobertura da mídia há quase 90 anos.
Devido ao tempo de existência do jornal, as matérias foram visualizadas por microfilme exibido em máquina. O aspecto que mais difere de atualmente é a maneira como era escrita a matéria. A ortografia chega a ser tão diferente da
que é conhecida atualmente, que as matérias pareciam escritas em outra língua, havendo uma influência muito forte da língua espanhola e do latim.
As matérias relacionadas à crise não ocupavam uma página ou mesmo uma manchete, vinham implícitas em notas sobre a situação a exportação do café para Nova York (NY), ou na página financeira, que continha balanços sociais e movimentações das principais bolsas de valores. Para descobrir se havia muita alteração na Bolsa de NY, era necessário que o próprio leitor analisasse a queda dos números – ou a alta.
Foram lidos todos os exemplares disponíveis dos meses de janeiro a abril de 1929. Nos jornais do final de janeiro até início de fevereiro deste mesmo ano, é possível notar que indícios da queda da bolsa. Tem início a queda nas vendas do café (do Brasil para Estados Unidos) de acordo com agentes de firmas norte americanas.
O fato da maioria das noticias da Folha de São Paulo e do Estadão sobre a crise de 1929 serem encontradas em notas sobre o café, deve-se à repercussão e à influência que a crise proporcionou ao Brasil. Nova York pode ser considerada um dos principais compradores do café brasileiro, e com a crise, esse número diminuiu significativamente.
De acordo com o professor de história Fernando Traldi, “a crise de 1929 nos Estados Unidos da América do Norte trouxe problemas catastróficos à economia brasileira, eram eles os principais compradores do nosso café e, devido à crise, esse comércio foi interrompido, causando o caos na economia brasileira”, explica
De acordo com matéria publicada em março de 1929, pelo Estado de São Paulo, o mercado de café começa a ficar menos movimentado e retraído por parte dos exportadores, “as notícias vindas da bolsa de Nova York influenciaram para tornar mais monótono o mercado, pois, todas as bolsas registraram baixas”, de acordo com a publicação do jornal.
O mercado de café se manteve fraco e estagnado, sem que suas operações conseguissem se desenvolver. Com o decorrer do tempo, notou-se uma grande instabilidade nas vendas do café para NY. Em janeiro eram vendidas cerca de 20 mil sacas de café, em fevereiro esse número caiu para 15 mil, e em março e abril o número ficou entre 15 e 10 mil sacas vendidas.
Em análise aos indicativos exibidos pela editoria de mercado e finanças, é possível notar a instabilidade causada pela crise, na Bolsa de NY. Em alguns dias desses 4 meses, a bolsa iniciava com 10 a 20 pontos, e fechava o dia indo de 17 a 28 pontos, nos dias de alta. Já nos dias de queda, iniciava com 5 a 8 pontos, e caia para 3 a 7 pontos, no fim do dia.
A queda da exportação de café está diretamente relacionada à queda do mercado de ações de Nova York, já que os mesmos diminuíram a exportação, causando inúmeras conseqüências ao Brasil.
“Foram uma das principais causas da quebra do acordo entre as províncias de São Paulo e Minas Gerais, a famosa República do Café com Leite, onde o presidente Washington Luís deveria indicar um representante do PRM (Partido Republicano Mineiro) para sucedê-lo na presidência da República. Mas ao invés disso deu apoio à candidatura do Sr. Julio Prestes do PRP (Partido Republicano Paulista), por acreditar que ele conseguiria resolver os problemas, com maior rapidez, dos produtores de Café. Com a quebra do acordo das províncias as eleições de 1930 foram disputadas pelo paulista Julio Prestes e pelo gaucho Getulio Vargas e vencidas pelo paulista. Vargas e seu grupo político não aceitaram o resultado das urnas, mas nada podiam fazer para anular a eleição de Julio Prestes, mas o assassinato de João Pessoa (candidato a vice-presidente na chapa de Vargas) levou ao Golpe de 1930, Vargas ascendeu ao poder, da onde só sairia em 1945.”
Não era apenas o consumo de café que estava em decadência nos Estados Unidos. O açúcar estava acumulado em estoque em Nova York. A safra chegou a atingir 8.217.000 toneladas métricas, ou seja, 130.000 toneladas a mais do que o calculado para novembro de 1929, de acordo com matéria publicada pelo Estado de São Paulo. “O mercado europeu já está sentindo uma depressão momentânea”, essa frase dá início à previsão de que uma crise econômica está por vir.
Outra maneira encontrada pelo jornal para atualizar os leitores sobre a crise era com matérias políticas, ligadas exclusivamente à troca de presidente dos EUA, que na época era Herbert Hoover, presidente dos Estados Unidos de 1929 a 1933, e considerado pela crítica como um dos piores de toda a história do país.
Considerando essa informação, pode-se fazer uma análise a respeito da mídia em relação à crise. O jornal Estado de São Paulo, na matéria: “os problemas internacionais que o Sr. Hoover terá de enfrentar”, publicado em meados de 1929, logo após a eleição do presidente em questão, o jornal acreditava que sua eleição poderia significar em prosperidade para o país, Hoover era considerado o mais qualificado para governar os EUA. Mas, com a queda do mercado de ações o país mergulhou na depressão econômica. O presidente republicano acreditava que o Estado não deveria interferir na economia, e demonstrou pouca sensibilidade a milhões de desempregados e falidos. De acordo com informações da “The White House Historical Association”, Hoover chegou a declarar que esses desempregados devessem encontrar serviços comunitários, como voluntários, tentando fugir da responsabilidade do governo de auxiliar a população. Decorrente disso, surgiram inúmeras favelas nessa época, que foram apelidadas de Hooverviilles – Cidades de Hoover.
“Ao tentar encobrir a situação caótica que seu país vivia devido à crise, o presidente Herbert Hoover não conseguiu encontrar soluções e suas declarações catastróficas, como a de que a ajuda às pessoas prejudicadas pela crise deveria ser voluntária, lhe renderam o rótulo de insensível e cruel, também se tornando uma das causas da derrota humilhante nas eleições de 1932“, destaca Traldi.
Divulgação da crise de 29 pela mídia – Folha de S. Paulo ( Folha da Manhã) e Revista Veja – e a influência da queda do mercado de ações para o café, no Brasil.
Com base na pesquisa realizada pelo acervo digital da Folha de S.Paulo, do qual foram analisados jornais de janeiro a abril de 1929, pudemos observar diversas características jornalísticas que se diferenciam das atuais, e até mesmo a influência do contexto histórico vivenciado na época até os dias de hoje.
Do ponto de vista estético, podemos dizer que o layout dos jornais eram pesados, quase não continham imagens e a impressão era toda em preto e
branco, a divisão das colunas não tinha um padrão, o que torna a leitura um pouco mais difícil . Assim como o jornal Estado de S.Paulo, a Folha da Manhã também sofreu influência espanhola em sua escrita.
No jornal que circulou em 22 de janeiro de 1929, terça-feira. Na capa, há apenas uma espécie do que hoje chamamos de box, falando sobre a relação entre a queda da bolsa de NY e o mercado de café. Não é assinada por nenhuma agência ou correspondente, e foi intitulada como: “Mercado de Café, o produto brasileiro dominou a praça de Nova York.” Nessa publicação o conteúdo é enviado por Nova York e diz que o mercado continua com a mesma estabilidade da semana anterior, chegando até a transmitir um ânimo motivador ao leitor, ao dizer que o Brasil mantinha-se motivado na exportação de café aos americanos. Porém, não esconderam os indícios da crise que estava por vir. Considerou como “ligeira irregularidade” o desequilíbrio das vendas nos três dias anteriores á publicação, que se mantiveram entre 15, 20 e 40 sacas vendidas. Apenas no caderno Comercial é que há informações sobre a situação nacional e internacional do mercado cafeeiro e também números da bolsa. (informações que estavam pressentes em todas as edições).
De um modo geral, pudemos perceber que os jornais do grupo Folha não abordou o assunto com intensidade, já que não disponibilizou grande espaço para matérias que mencionavam a crise.
Já na revista Veja na edição de outubro “O crash da bolsa” trouxe matérias completas sobre todo o contexto da crise, e no que diz respeito à queda da bolsa de NY e o impacto que no Brasil, a revista traz as informações necessárias, que faz com que qualquer leitor independente do seu conhecimento sobre a situação consiga entender o que se passa, desde os motivos, impactos e até mesmo consequências. Utilizaram dados do Jornal Correio da Manhã para informar o número de indústrias que declararam falência (72) e também os números que deram origem à essa forte instabilidade econômica. Segundo a revista outubro foi o mês que determinou esse declínio na economia tanto para os brasileiros quanto para os americanos, afinal toda a crise teve início na bolsa de NY quando aconteceu a queda brusca de 200 pontos no valor do grão em apenas dois dias, de 19,25 para 16,65 dólares. “Mas o amaldiçoado mês que outubro nos Estados Unidos tornou mais dramática a conjuntura do café no Brasil”, publicou a revista Veja.
Como já comentado na veiculação do jornal Estado de S. Paulo, nesse período o Brasil (Principalmente o estado de São Paulo) estocou uma grande quantidade de café devido à queda de exportações o que resultou em prejuízos e desemprego de todas as classes.
Porém, nesse mesmo mês, o Jornal da Manhã em 20 de outubro publicou uma matéria de capa com o título: “Situação do café nos mercados estrangeiros’’, que acompanhava uma imagem expressiva de um personagem carregando um saco de café aparentemente pesado e com a frase “Caso do Café“. A matéria vem de Nova York com data de 19 de outubro, e diz que o café não sofreu alteração sensível no dia anterior mantendo- se no mesmo status informado pelo Brasil. Diz ainda que no dia atual foram vendidas 60 sacas de café quando no dia anterior foram 70. Ao fim da matéria, é informado que as expectativas se mantém em alta e acredita- se que nos dias seguintes o mercado cafeeiro se regularize por completo.
Ainda na revista Veja, foi mencionado que a queda da bolsa de Nova York além de prejudicar a economia do país poderia viabilizar um empréstimo de 50 milhões de dólares que a Casa Branca planejava ceder ao Brasil, para ajudar os fazendeiros de café.
Ao fim da matéria, o leitor pode ter um resumo da situação do Brasil em relação à Crise, a revista aponta que o país está em uma produção excessiva de café, porém, não há como comercializar este produto, e que o governo não possui mais condições para manter e armazenar o café. Diante disso, o jornalista que redige essa matéria expõe a sua opinião e sugere as alternativas de: Impulsionar a indústria e diversificar a produção. Porém concorda que são processos de médio e longo prazo e que não seria uma ação rápida para salvar a economia do país.
O New Deal
O New Deal foi um projeto criado pelo então presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, em 1933. Ele teve coragem de aplicar este projeto keynesianista, que pretendia que o Estado intervisse na economia, atitude inadmissível naquela época cuja ideologia o próprio mercado resolveria os problemas em
que a economia se encontra. Roosevelt prometera ao povo americano na campanha para a eleição, que usaria o poder total do governo, para resgatar os Estados Unidos da depressão. As promessas de Roosevelt incluíam:
• Emprego para a população.
• Proteger a poupança e a propriedade dos cidadãos.
• Melhorar a vida dos doentes, idosos e desempregados.
• Recuperar a indústria e a agricultura.
O presidente foi muito criticado no início da implantação do projeto mas o New Deal foi um forte investimento feito na infraestrutura dos E.U.A. A partir desse esquema, milhões de empregos foram criados.
A História da Crise de 1929
“Em 1929 manifestou-se uma forma de crise que não só teve uma difusão simultânea em quase todos os países capitalistas desenvolvidos, como também se apresentou como crise de superprodução e de subconsumo”, afirma Giuseppe Vacca, na obra Experiências Neoliberais.
Os acontecimentos que levaram a essa grande crise se deram somente após o momento de prosperidade econômica que os EUA vivenciavam, intitulada de “american way of life”. No fim da Primeira Guerra Mundial, como os países europeus estavam todos devastados, os Estados Unidos passaram a exportar alimentos e outros produtos industrializados para a Europa, o que gerou grande lucro para o país.
Posteriormente, com uma economia mais reestabelecida, a Europa passou a diminuir as importações dos EUA. Como o número de produtos ficou maior do que o de consumidores, os preços caíram, diminuiu-se a produção, e o desemprego aumentou, gerando uma paralisação do comércio, resultando assim, na quebra da bolsa de valores, dando início a “Grande Depressão”.
Durante a crise várias instituições bancárias tiveram de se fechadas, e o número de desemprego no país chegou a uma taxa de 25%, o que acabou por levar muitas pessoas como: acionistas, empresários, e muitos outros que estavam totalmente endividados e sem nenhuma forma de sustento, ao suicídio.
Durante esse período também, em 17 de Maio de 1930, os EUA recorreram ao protecionismo com o ato “Smoot-Hawley” como uma forma de escape. “Em 1930, logo no início da Grande Depressão,o Ato Smoot-Hawley resultou da premissa –majoritária no Congresso – segundo a qual a solução para a crise ocorreria por meio da adoção de um acentuado protecionismo.”, conforme o que diz a obra Origem dos Instrumentos de Formulação da Política Comercial Norte-Americana.
Acreditava- se que dessa forma, a competição com produtos estrangeiros no país seria reduzida.
O país só viria a conseguir superar essa crise a partir do período entre 1933 e 1937 com o programa chamado “New Deal”, criado pelo presidente Franklin Delano Roosevelt. “O New Deal consistiu em um amplo arranjo de medidas governamentais para apoiar organizações financeiras, comerciais e industriais em dificuldades, aliado a um conjunto de iniciativas que visavam fomentar empregos e melhorias na vida dos trabalhadores do campo e da cidade”, de acordo com a obra literária Origem dos Instrumentos de Formulação da Política Comercial Norte-Americana
Apesar de toda a ajuda fornecida pelo “New Deal”, só com a entrada do país para a Segunda Guerra Mundial, a crise finalmente acabou. As taxas de desemprego caíram e a produção industrial obteve um vasto crescimento.
Referências
-VACCA, Giuseppe. Welfare e Experiências Neoliberais. 1991
-VIGEVANI, OLIVEIRA, MARIANO. Origem dos Instrumentos de Formulação da Política Comercial Norte-Americana. 2003
-GALIANI, GOMES MACHADO. Departamento e Programa de Pós-Graduação em Educação. 2004
-UOL, apud The White House Historical Association. Herbert Hoover. Disponível em http://educacao.uol.com.br/biografias/herbert-hoover.jhtm e em http://www.whitehousehistory.org/. Último acesso em 13 de novembro de 2012.
- Acervo Folha. Disponível em:
< http://acervo.folha.com.br/fdm/1929/01/22 > Acesso em 18 de novembro de 2012. <http://acervo.folha.com.br/fdm/1929/10/20/141/> Acesso em 19 de novembro de 2012.
- Veja na história – Outubro de 1929: Crash na bolsa de Nova York – Especial: A bola da vez? Disponível em: < http://veja.abril.com.br/historia/crash-bolsa-nova-york/brasil-crise-do-cafe-exportacoes-falencias.shtml> Acesso em 18 de novembro de 2012.
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