Neoliberalismo
Amanda Garcia, Camila Antunes, Eric Luiz, Raíssa Palma, Thaime Lopes e Thiago Pássaro
O neoliberalismo surgiu na década de 70 como uma nova forma de governo. Este novo sistema político, econômico e social não influenciou apenas na época, mas demonstra seus traços ainda hoje. Para relembrar o surgimento e a importância desse fato, o grupo produziu a reportagem especial "Londres de Ferro" que pode ser conferida a seguir: http://www.sendspace.com/file/dk1m98 (faça o download grátis no link)
Além disso, você pode conferir uma análise histórica sobre o fato, a cobertura da mídia e a influência de Thatcher nesse contexto.
O surgimento
O liberalismo foi criado em oposição ao controle que as monarquias absolutistas exerciam sobre o comércio. Esta é uma filosofia que defende a existência de um Estado laico e não intervencionista, ou seja, sem vínculo a nenhuma crença religiosa, e sem interferência de qualquer Igreja nos assuntos políticos. Em contrapartida, esse Estado também não interfere nas crenças pessoais, instaurando assim o ideal de tolerância religiosa.
O pensamento liberal parte do principio de que todos os homens são definidos como seres livres e de igual capacidade. Diante disso, eles teceriam suas relações a partir da criação de instituições que regulassem a busca de seus interesses. Assim, os liberalistas veem no Estado, uma instituição de origem racional, que conseguiria preservar os princípios de igualdade do homem.
O Estado não deve interferir na economia ou intervir somente o mínimo inevitável, pois o liberalismo defende a propriedade privada e constata que o funcionamento da economia se dá a partir do princípio do lucro e da livre iniciativa, o que desenvolveria o espírito empreendedor e competitivo.
Gradualmente, e diante das crises, o liberalismo começou a admitir a tendência intervencionista do Estado para solucionar alguns dos problemas sociais que atingiram o mundo da primeira metade do século XX, as chamadas crises capitalistas.
Com as crises instauradas, de Estados Unidos e a Inglaterra, exemplo de países liberalistas, promoveram ajustes rigorosos na economia, desenvolvendo o que se chamou de Wellfare State ou Estado de Bem-Estar Social.
O liberalismo clássico teve uma queda lenta, que começou no século XIX e que terminou bruscamente durante a crise de 1929 com a queda da bolsa de valores de Nova York. A partir dessa crise, o modelo liberal clássico perdeu o seu valor dentre os países do mundo.
Para superar a conflito econômico, potências como os EUA e a Alemanha adotaram políticas econômicas intervencionistas. No caso dos Estados Unidos, era o New Deal do governo Roosevelt, que se constituía em uma série de programas implantados no país, e no caso da Alemanha, a própria política ideológica de Hitler.
Essa política prevê o aumento dos fluxos de capitais, mercadorias e informações, o investimento em obras públicas, a destruição dos estoques de produtos agrícolas, o congelamento dos preços e a produção, além da diminuição da jornada de trabalho, com o objetivo de criar novas vagas de emprego.
Nos anos 60, o Estado de Bem-Estar Social começou a dar sinais de desgaste, sendo um dos motivos o fato das despesas governamentais acabarem superando a arrecadação ou receita, provocando assim um aumento no déficit público, da inflação e da instabilidade social. Além disso, a economia já estava restabelecida, atingindo a sua “Era de Ouro”.
Sob esse contexto, a presença do Estado na economia começou a se tornar desvalorizada. Os conceitos do neoliberalismo, portanto, começaram a surgir.
Foi então que, na década de 1980, os governos de Ronald Reagan, nos EUA, e de Margareth Thatcher, na Inglaterra, se destacaram, por diminuir a intervenção do Estado na área social, o que mostrou na prática os conceitos do neoliberalismo.
Quanto aos países não desenvolvidos da América Latina, o neoliberalismo foi introduzido no Chile e na Bolívia, em meados da década de 1990. Vários países os seguiram, como a Argentina e o Brasil, impulsionados pelo chamado Consenso de Washington – conjunto de medidas que se compõe de dez regras básicas formulado em 1989 por economistas em Washington D.C. As ideias são fundamentadas num texto do economista John Williamson, e se tornou a política oficial do Fundo Monetário Internacional (FMI) em 1990. Nessa época, as ideias começaram a serem passadas como "receita" para promover o "ajustamento macroeconômico" dos países em desenvolvimento, que passavam por dificuldades.
Os países latino-americanos que adotaram o neoliberalismo apresentaram inicialmente crescimento econômico, modernização – principalmente industrial – e estabilidade monetária. Em poucos anos, porém, instalou-se a crise econômica e social em vários deles: Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia etc.
Os anos 1990 foram marcados, no Brasil, por um clima de perplexidade e de aflição geral no que diz respeito à educação. Os governos Collor e Cardoso, de orientação neoliberal, caracterizaram-se por uma política educativa incoerente, combinando um “discurso sobre a importância da educação” e um “descompromisso do Estado” no setor, com um papel crescente da iniciativa privada e das organizações não-governamentais (ONGs). (SAVIANI,1996).
Após os trinta e um anos de guerra – definidos assim por Hobsbawm, onde o autor considerou as duas guerras mundiais em um único e prolongado conflito interimperialista, com dois períodos agudos, separados pelos anos entre 1918-39 –, aquela velha ideologia da não intervenção do Estado na economia, perdia seu lugar, já que o Estado teve um papel fundamental na reconstrução dos países devastados pela guerra.
Foi somente nos anos 90, que o neoliberalismo se consolidou de vez, com o fim da União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS), que mostrou ao mundo a derrota dos governos centralizadores. Isso acabou dando espaço para volta das teorias liberais política e econômica, que foram criadas a partir do pensamento iluminista, próprio da Revolução Francesa (1789-1799).
A concepção neoliberal foi formulada pela primeira vez em 1947 por Friedrich August Von Hayek. Ela partia do princípio de que o mercado deveria servir como base para organização da sociedade. Mas a política econômica neoliberal só foi aplicada inicialmente pelos governos de Margareth Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (Estados Unidos), a partir dos anos 1980. Hoje é a tendência econômica vigente no mundo globalizado. Tinha como finalidade o combate ao poder dos sindicatos e a redução do papel do Estado na economia.
O centrismo liberal e a economia keynesiana ficaram subitamente fora de moda. Margaret Thatcher lançou o chamado neoliberalismo, que era na realidade um conservadorismo agressivo de um tipo que não era visto desde 1848, e que envolveu uma tentativa de reverter a redistribuição do Estado de Bem-Estar, de modo a beneficiar as classes superiores e não as classes mais baixas (WALLERSTEIN, 2004, p.61).
A doutrina propõe, principalmente, a desregulamentação da economia –controles públicos menos rígidos das atividades econômicas – e a privatização das empresas estatais, como as usinas de energia e as indústrias de base.
O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar. (ANDERSON, 1995, p.09)
Segundo a ideologia econômica do neoliberalismo, ao enxugar os gastos com políticas sociais e obras públicas, o governo tende a diminuir os impostos e estimular as atividades produtivas. Ainda de acordo com tal corrente, o indivíduo teria mais importância que o Estado. Essa concepção se caracteriza pela valorização da competição entre as pessoas e liberdade de comércio, ao mesmo tempo em que é a favor da diminuição dos gastos estatais com previdência social, saúde e educação. Seguindo essa mesma linha, destacaram-se, novamente, os governos de Reagan e Thatcher.
Esse declínio de regimes se deu em paralelo à ascensão de dois líderes que avocaram para si os méritos da “vitória do capitalismo”. Os novos personagens foram o presidente Ronald Reagan, dos Estados Unidos, e a primeira-ministra, Margaret Thatcher, da Grã-Bretanha. (SEVCENKO, 2004, p.35)
Thatcher e sua influência no neoliberalismo
Em um cenário de turbulência social, constituído pela recessão econômica, elevadas taxas de inflação, altos índices de desempregos e uma grande crise petrolífera, que Margareth Thatcher, líder do partido conservador inglês, assumiu o poder na Grã-Bretanha.
Thatcher sucedeu o primeiro-ministro James Callaghan, e representou uma grande surpresa em sua eleição, já que grande parte da população não acreditava em sua vitória, principalmente pelo fato de se tratar de uma mulher. Com a vitória, Thatcher conseguiu o que nunca nenhuma mulher havia conseguido na história do Reino Unido: ocupar o cargo mais alto do país.
Ela assumiu o poder durante uma fase complicada para a Inglaterra A população, de uma maneira geral, esperava que ela ajudasse o país na tarefa de se reposicionar na economia de maneira positiva. Porém, essa recuperação, não ocorreu de uma hora para outra, foi preciso alguns anos para que fosse possível controlar o desemprego, por exemplo.
Uma matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo no dia 3 de maio de 1979, mostra como Thatcher foi subestimada como primeira-ministra da Grã Bretanha:
“Margareth Thatcher, líder do Partido Conservador, era apontada até há duas semanas como a futura primeiro-ministro britânica – seria a primeira mulher a ocupar tal cargo na Europa –, devido à grande vantagem que seu partido obteve nas primeiras sondagens. Mas houve uma reação dos trabalhistas e há quem acredite que James Callaghan continuará a ocupando o posto.”
O Estado de São Paulo, 3 de maio de 1979
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No início do seu mandato, Thatcher efetivou uma série de medidas e mudanças, como a redução dos impostos e passou a controlar e a realizar reformas institucionais nos sindicatos trabalhistas. Essas reformas lhe valeram o apelido de “Dama de Ferro”, termo este que também pode ser explicado pelo fato de sua oposição a União Soviética, aos sindicatos e por ter sobrevivo a uma tentativa de assassinato.
A Primeira-Ministra assumiu o cargo em 1979 e permaneceu nele por 11 anos. Nos primeiros cinco anos, suas medidas de governo não promoveram melhorias na economia britânica. Após o primeiro mandato, Thatcher promoveu um programa de privatizações das empresas estatais e continuou combatendo de forma radical os movimentos sindicais trabalhistas.
Ao introduzir o neoliberalismo no país, muitos economistas, que antes a criticavam, começaram a ver a teoria econômica como uma “verdade absoluta”. Os defensores do novo sistema reconstruíram a visão do mundo em menos de uma década.
Um trecho da matéria sobre a privatização da British Petroleum, no jornal O Estado de São Paulo no dia 30 de outubro de 1987, mostra a dificuldade enfrentada pela primeira-ministra:
“A primeira-ministra da Inglaterra, Margareth Thatcher, resolveu resistir às pressões e anunciou ontem: vai manter o processo de privatização da British Petroleum, a terceira maior empresa do mundo no setor petrolífero, indiferente à crise que o mercado de ações atravessa no momento nas principais bolsas de valores.”
O Estado de São Paulo, 30 de outubro de 1987
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A própria Thatcher se referia ao seu projeto como TINA – There Is No Alternative ou, em português, não há alternativa. Seu principal objetivo era a competição entre nações, regiões, firmas e, claro, indivíduos. Ela achava que assim seria fácil distinguir os com potencial e os sem, o que deixou claro em um discurso no início de seu mandato:
“It is our job to glory in inequality and see that talents and abilities are given vent and expression for the benefit of us all”, numa tradução livre, “É nosso trabalho ter glória na desigualdade e ver que talentos e habilidades surgem e expressam o benefício de todos nós”. (Thatcher, 1979)
Uma de suas frases clássicas é: “A ganância é um bem”. Essa afirmação deixa clara a concordância que a “Dama de Ferro” tinha com a acirrada concorrência capitalista.
Thatcher conseguiu controlar a inflação e acelerou a valorização da moeda inglesa, porém não conseguiu baixar a taxa de desemprego.
Sua segunda reeleição aconteceu em 1989, porém sua relação com o partido não era boa, o que levou à sua renúncia no ano seguinte. Um dos fatores que também contribuiu para a renúncia foi a vitória do presidente norte-americano, George Bush, não simpatizante de Thatcher.
Alguns trechos da matéria do Estado de São Paulo mostram que o desemprego atingiu seu auge durante o mandato de Thatcher, e que a oposição criticava a forma como a primeira-ministra administrava a situação da Inglaterra:
“13,4% na Inglaterra”
“O desemprego, que atualmente é o problema econômico mais sério da Grã-Bretanha, alcançou, este mês, o seu nível mais alto desde a Segunda Guerra Mundial, atingindo diretamente 3.190.621 pessoas (...)”.
“Assim que os números foram divulgados, os políticos de oposição começaram a criticar duramente a política econômica da primeira-ministra Margareth Thatcher, culpando-a pelo que chamaram de “desastre humano” e exigindo sua renúncia.”
O Estado de São Paulo, 21 de julho de 1982 |
A revista Veja, publicou uma reportagem especial sobre a renúncia de Thatcher e toda a sua trajetória como primeira-ministra da Inglaterra.
Capa da revista Veja, 28 de novembro de 1990
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Revista Veja, 28 de novembro de 1990 |
Um fato curioso é a ligação que a “Dama de Ferro” tem com as questões referentes à Guerra Fria. Para se ter uma ideia, ela assumiu o cargo de Primeira-Ministra inglesa no ano de 1979, em pleno conflito ideológico, e deixou o poder político britânico em 1990, após a queda do muro de Berlim, marco do fim da Guerra Fria.
SAIBA MAIS
Indicação de Livros:
Neoliberalismo - De onde vem, para onde vai?
Autor: Reginaldo Moraes
Sinopse:
Tema desse livro, o neoliberalismo suscita várias questões: O que significa? De onde surge? O que pretende? Quem o defende? Quem o critica? Tais perguntas contêm um extraordinário potencial de controvérsia, na medida em que o neoliberalismo provoca muitas discussões, a seu favor ou contra.
O livro permeia pelo liberalismo clássico, e apresenta a origem do Neoliberalismo, mostrando seus modelos teóricos e orientações políticas, alguns métodos e pressupostos da PublicChoice, o livro ainda contempla o neoliberalismo e bens públicos, e termina com reflexões críticas a respeito de um futuro sempre possível. (Por: Editora Senac)¹
Coleção Grandes Líderes – Margaret Thatcher
Coleção Grandes Líderes – Margaret Thatcher
Autor: Bernard Garfinkel
Sinopse:
Margaret Thatcher, a filha de um merceeiro de Grantham, urna pequena cidade da Inglaterra, foi a primeira mulher britânica a se tornar primeiro-ministro de seu país. Ela ganhou esse cargo trabalhando duro, brigando muito e prometendo restaurar a economia da Grã-Bretanha, devolvendo à nação sua antiga grandeza. Mas nem tudo correu como Margaret Thatcher imaginava. Três anos depois de ter assumido, ela perdia a confiança de seu eleitorado e as mais diversas vozes se levantavam contra o seu governo. (Por: Skoob) ²
Indicação de Filme:
A Dama de Ferro
Sinopse:
Durante 11 anos e meio, Thatcher se manteve no cargo de Primeira Ministra britânica. Ela quebrou barreiras de gênero e classe, fazendo com que um mundo dominado pelos homens parasse para ouvir o que dizia, inicialmente com a voz estridente, mas sempre com muita garra, convicção e certeza do que almejava. Nesse período, ela comandou a Inglaterra com mãos de ferro e enfrentou uma série de importantes decisões.
Filha de comerciante, Margaret nunca teve vergonha de suas origens e sempre preferiu os debates políticos às tarefas delegadas para as mulheres. E com o objetivo de trilhar seu próprio caminho e fazer a diferença no mundo, decidiu começar sua carreira nesse universo tão masculino. Sempre com o apoio de seu marido, Denis Thatcher (Jim Broadbent).
O papel rendeu a Meryl Streep a estatueta de melhor atriz no Oscar 2012, além do prêmio de melhor maquiagem. (Por Guia da Semana) ³
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Perry. Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p. 09.
CAPITALISMO. Disponível em:<http://www.prout.org/pna/uk-capitalism.html>. Acesso em: 3 nov. 2012.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XXI: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.29-60.
LIBERALISMO. Disponível em: <http://www.alunosonline.com.br/historia/liberalismo.html>. Acesso em: 19 nov. 2012.
LIBERALISMO. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/liberalismo-e-democracia-as-bases-filosoficas-da-democracia.htm>. Acesso em: 19 nov. 2012.
MARGARETH, Thatcher. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historia/margareth-thatcher.htm>. Acesso em: 1 nov. 2012.
NEOLIBERALISMO. Disponível em: <http://academic.brooklyn.cuny.edu/education/progler/writings/published/neoliberalism.html>. Acesso em: 3 nov. 2012.
NEOLIBERALISMO. Disponível em: <http://www.globalexchange.org/resources/econ101/neoliberalismhist>. Acesso em: 3 nov. 2012.
NEOLIBERALISMO, o que é. Disponível em: <http://f5dahistoria.wordpress.com/2010/12/01/o-neoliberalismo-o-que-e-e-qual-foi-sua-influencia-no-mundo-contemporaneo/>. Acesso em: 1 nov. 2012.
SEVECENKO, NICOLAU. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras: 2001, p.35.
² Imagem disponível em: <http://www.skoob.com.br/livro/83490>
³ Imagem disponível em: <http://omelete.uol.com.br/dama-de-ferro-iron-lady/cinema/dama-de-ferro-critica/>
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